domingo, 17 de maio de 2015

Av. 9 de Julho

Uma das minhas partes favoritas de São Paulo é a avenida 9 de Julho. As mentes mais criativas do mundo não seriam capazes de recriar toda aquela bagunça estética se um dia a avenida sumisse. Passo por ela e impressiono-me com as dimensões absurdas dos prédios, que não ornam nem um pouco entre si no espaço que competem. Não existe nem uma tentativa arquitetônica para unir os edifícios, sendo ela simplesmente rebuscada, fascista ou modernista. Todos os prédios são desesperadamente megalomaníacos, como se fossem idéias fetichistas que de repente se tornaram realidade sem muita supervisão, amontoando-se por cima uns dos outros sob o cru sol da realidade. Existem muitos buracos, recuos e espaços negativos fincados por entre pontes, passarelas, viadutos, escadarias e paredes, acima e abaixo e onde ocasionalmente, se prestarmos atenção, encontra-se um espectador acomodado na sombra, em algum matinho. E ainda são muitos os matos que também se enfiam e espalham por ali, em lugares inusitados onde podem reproduzir-se em paz, onde caem seus esporos. Em determinado momento durante a avenida passamos por um túnel de azulejos bastante escuro que corta algum morro, e se olhamos para o lado vez ou outra notamos que os prédios estão confinados no leito daquele rio por morros bastante íngremes e altos, que nos relembram a cor marrom da terra e o verde da grama, e que são contidos por paredes de concreto as quais às vezes também compõem partes de alguma outra construção (como o as que formam a faixada daquele mesmo túnel, com enfeites e até chafarizes!). Os prédios da avenida tornaram-se orgânicos, e naquele caos se dão as mãos pelas sombras, pelo som do trânsito que ecoa e pelas conexões entre os muros, falam através de vozes pixadas, incrivelmente pintadas nos grafites, e são agora o próprio terreno, sólido e sagrado, mas erodido pela própria efemeridade da vida urbana, invadido por gente que passa olhando só para frente, e entremeado por lugarzinhos onde gente se enconde ou onde, infelizmente, não dá pra chegar ninguém.

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