quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Agora podia


O homem havia inventado o seu próprio código para pensar.
Sem querer, escondida em algum canto reflexivo havia a insegurança de se concentrar.
De ficar público o que antes era corriqueiro, e a partir daí o preconceito
O contato o fazia vezes amargo, e toda reunião em janta comia para si mesmo desfeito
Assim foi um dia: outro homem se aproximou, respirando difícil e aparentemente cheio de humildade
E seria muito fácil e óbvio se o tal outro homem, com o dedo da maldade
Houvesse aproveitado a distância inexorável do nada, e o gatilho tivesse puxado
Mas o que aconteceu foi que, com o instrumento na mão e brasão no peito
Tentou mudar, como se faltasse alguma coisa mudar a posição dos pés, e caiu sem escrúpulo e sem leito
O homem então voltou no tempo e foi além dele, e depois, com destemido mas nada especial jeito pode pela primeira vez pensar como se fosse livre, como se finalmente sentisse o chão, frio
E teve por um momento, que depois se pôs a questionar, a certeza de que seria assim para sempre
Durante isso que se chama de tempo infito, pensou que se daria o privilégio de pensar
Mas que para isso carregaria consigo todo dia uma arma e um brasão diferente
Presos com força porém minúcia, que se soltassem com facilidade quando fosse a hora que lhe faltasse o algo sob os pés
Pudesse, ao invés da cair daquela forma toda desajeitada, dolorosa, se deitar frente a todos os olhares da macabra histeria

No tal lugar onde só se tinha o que não tinha, e o que se tinha ainda havia de pensar, ainda então pensaria, porque agora podia.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Vejo a caminhada


O vento que sinto lá por poucas vezes e me recordo foi o vento que hoje senti aqui.
Passam me olhando atentos seguros em seus canais criaturas indignas de serem aladas.
Tentam ser discretos, como se a distância de um fosse diferente da do outro. Talvez seja mesmo, nem sequer sabem o quão fundo está no peito seus próprios corações persistentes.
Pensam sinceros para consigo mesmos enquanto andam, numa sinceridade atônita e dúbia, dentro si que se mete a achar que basta. Escorrem como um espelho rastejante, espelhos de si mesmos e que se entortam em mim. A minha própria profundidade é inconsistente, desandada, irônica, escondida no vento que clama que só quer se adiantar, enquanto zombo de tudo isso. Desespero, não, é outra coisa, mais macia e faminta, incolor.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Para não dizer que fui eu quem disse


Para não dizer que fui eu quem disse, afinal não estou só dizendo, eu escrevi para depois dizer, e afinal porque já fizeram isso de escrever de tanta responsabilidade, eu, como já disse, para evitar a responsabilidade comigo mesmo, vou dizer que foi a Maria quem disse que uma vez pensou assim:

"O conceito, aquilo que é o contorno de uma concepção, muito mais que uma palavra é mais como uma livro de leis sobre a observação daquilo a que se refere, é o que nunca vai ser. O conceito é aquilo para que lembremos do que estamos nos referindo, e nada mais. Não é uma cópia, nem o original, é um convite...
No caso de gente, de ser humano, melhor, de cidadão, um exemplo de conceito, bem sem graça, é o ato fascista por má fé. Aquele que pratica tal ato, concebendo-o como natural, não o faz por fazer, mas sim por conceber, porque se forçando a ser aquilo que acha que deve ser, acaba não sendo nada, e opta por assim ser, sem se ver sendo, mas só como é. O ato não fascista, nem de má fé, nem aquele que é sem querer, por motivo de coisas históricas as quais não desenvolveu ver, é muito mais difícil de se conceituar, porque admitindo a angústia de não saber o que é e contrariando o esforço de ser, não pára de procurar-se, e por não se aquietar, não lhe passa uma ideia de essência de conta própria, nem do contrário disso, mas apenas a preguiça e ao mesmo tempo coragem de não se responsabilizar por essa questão dicotômica, que ao ser tão conceituada por aí, parece fascista."

Mas já vi quem dissesse outra coisa por aí, de que se estamos falando de uma coisa só podemos definir outra coisa a partir do que já definimos, e assim seria impossível definir o não fascista sem, nas escolhas das pessoas, ser apenas a parte que complementa o que se diz, tão facilmente apontado, como ser fascista.

A coisa não é tão política quanto cabulosa, porque, apesar dessa busca tão turbulenta do equilíbrio entre não ser nada e não saber o que se é, agente sempre está sendo alguma coisa sem saber naquela hora o quê, até que alguém lá de fora, desenroscado da história, acaba tropeçando e caindo de braços nos nossos, e agente só vai pensar que é assim tão importante se decidir quem é, se for uma pergunta de nós juntos. E também porque juntos agente, sem se decidir, só quer ver sorrisos, até não ser mais nada.

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Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends