quinta-feira, 23 de maio de 2013

Meia

         Z. estragou o dia por que não quis por a meia. O tempo se foi enquanto ignorava a frieza de seus pés. Machucava-se lutando contra a idéia de por a meia. A meia era uma utopia. Deveria segui-la, ou deveria assumir o absurdo de tal abstração? Já sentia estilhaços na garganta, e tinha dificuldade para engolir. Reprimia a dúvida. Idealismo ou materialismo, razão? niilismo? Onde poderia se colocar no patamar das idéias? Uma agonia do eu. Somente sabia, e isso sim, de que o fato real e concreto era o de que a meia existia, enquanto os pés, descalços, passavam frio. Os pés eram parte do seu corpo, e não podia negá-los simplesmente. Patamar das idéias, que maluquice é essa? O dia foi se esvaziando, e por final Z. não pôs a meia, era demais para ele. Uma tarefa tal deveria ser simplesmente um impulso, e somente assim. Se fosse óbvio, afinal, teria posto a meia. Mas nuca foi, pois a vida de Z. tinha sentido, seu lugar no mundo era ao lado da meia.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Foto


Livres e de mãos dadas
Sem receio de ler as placas
Convidamo-nos a vida

No fundo dos olhos o refletido branco
Dói o puro liso negro que nos depara

Nos rendamos ao momento
Com juízo sem tempo
Antes que se descole
Da pele a forma do pecado

O obturador diz clic!
E então há o movimento

terça-feira, 14 de maio de 2013

Passos


Mesmo que seja curto
meus passos parecem ainda mais
Desejam caminhar no ritmo surdo
mas não posso, não deixo
Fico atento a bagunça, os agudos, à familiaridade. Esse cheiro
Mato, poeira, o sol torto, excitante.
A pele é quente mas pareço congelar de dentro pra fora.
Não deixo.
Até o fim. E nunca mais.
Já era, e essa breve tarde é nossa.

Quem sou eu

Minha foto
Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends