segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A sede

Só sei que nada sei.
E idiota assim
Não me faço cínico

Da ciência, ficção
De seus argumentos:
Narração

Dizem o belo
O nobre, a virtude
São outras margens

Na foz, o sono
Derrete edifícios
Musa, reconcilio

Acordar, sossego
Antes de tudo, sentimento
O rio, a água, o reflexo
A sede


domingo, 17 de novembro de 2013

Identidade Moderna

Seguro meu copo cheio, observo,
vejo enquanto constrói seu castelo cromado
Pedra por pedra, em cima de areia, mas
parece-me que não há espaço para as portas?

Para quê prender a luz do lado de fora?
Se você observasse sua imensa distorção à frente
Ah, se pudéssemos aproveitar o eco lá de dentro
Ainda é possível gravar sua imagem, sem o flash.

E agora você sorri, vai mostrar para todo mundo
Como é que brilha plim seu castelo à luz do dia
Mas antes vai fugir de lá, corrido e desesperado
Apressa outro projeto, vai procurar outro deserto

E acaba no mesmo lugar, erodido, sem perceber
as lágrimas pingadas, secas, de seus próprios amigos
Que você deixou para trás, queimando sob o sol
Durante a vida em que você não se reconheceu

Eu, insatisfeito, também saio daqui, mas calmo
Levo bem guardadas comigo essas fotos
Quero voltar a pensá-las num outro momento,
E agora, a testemunhar o meu próprio movimento.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sete Anos

O riso que vem da superfície afunda inundando de malícia
Sete anos: assistem a gota de mel em um copo de pinga
Dias ensolarados, depois de
Sete anos: livros serpenteavam em seu peito
Resolvem agora descansados se levantar do leito
Sete anos: apostando alto, e hoje a vitória é nossa

sábado, 13 de julho de 2013

estudos em gastritologia (trecho)

O que há é o avesso da sombra que vejo na parede, e só.
Os olhos se fecham, mas abrem. O peito vibra, surdo, e as costelas doem.
Mas isso não é nada. É nada. De nada. E dói azedo.
A solidão é a interiorização da anticompanhia.

Há relutância para perceber que a vida é só lidar com as consequências de nossas escolhas - inspiro expiro...

01:36

Em algum lugar dessa noite escuto latidos
Poucos, dispersos, ecos
Em algum lugar dessa noite quem serão
Perdidos alvos de tão aficionados argumentos?

Calmo, o medo é encarar o relógio,
perceber que não posso ser um cão

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Academia dos monges dissidentes

Convido-vos à infância, à dissolução do irracional
à inesperança, à nostalgia, ao toque e à moral
Hoje vamos aprender a sovar a massa do pão
É preciso carinho mais violência,
pois não, nossa meta aqui não é desmantelar
Deformemos o espaço ocupado, podendo jogar
Com força, nem tanta concentração, tudo pode ser natural
E depois, mais uma vez, até que então, a forma não baste ao casual
Exercite durante a semana

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Meia

         Z. estragou o dia por que não quis por a meia. O tempo se foi enquanto ignorava a frieza de seus pés. Machucava-se lutando contra a idéia de por a meia. A meia era uma utopia. Deveria segui-la, ou deveria assumir o absurdo de tal abstração? Já sentia estilhaços na garganta, e tinha dificuldade para engolir. Reprimia a dúvida. Idealismo ou materialismo, razão? niilismo? Onde poderia se colocar no patamar das idéias? Uma agonia do eu. Somente sabia, e isso sim, de que o fato real e concreto era o de que a meia existia, enquanto os pés, descalços, passavam frio. Os pés eram parte do seu corpo, e não podia negá-los simplesmente. Patamar das idéias, que maluquice é essa? O dia foi se esvaziando, e por final Z. não pôs a meia, era demais para ele. Uma tarefa tal deveria ser simplesmente um impulso, e somente assim. Se fosse óbvio, afinal, teria posto a meia. Mas nuca foi, pois a vida de Z. tinha sentido, seu lugar no mundo era ao lado da meia.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Foto


Livres e de mãos dadas
Sem receio de ler as placas
Convidamo-nos a vida

No fundo dos olhos o refletido branco
Dói o puro liso negro que nos depara

Nos rendamos ao momento
Com juízo sem tempo
Antes que se descole
Da pele a forma do pecado

O obturador diz clic!
E então há o movimento

terça-feira, 14 de maio de 2013

Passos


Mesmo que seja curto
meus passos parecem ainda mais
Desejam caminhar no ritmo surdo
mas não posso, não deixo
Fico atento a bagunça, os agudos, à familiaridade. Esse cheiro
Mato, poeira, o sol torto, excitante.
A pele é quente mas pareço congelar de dentro pra fora.
Não deixo.
Até o fim. E nunca mais.
Já era, e essa breve tarde é nossa.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Adjetivos pra mais


Quando acordei havia no parapeito da janela: um dicionário; uma tira de papel comprida.
O local onde estavam denunciava uma ingênua subestima do vento e da chuva.
Adjetivos pra mais friamente colocados no papel, lia-se:
Uma hora neutra
Uma hora inquieta
Uma hora dormente
Uma hora frugal
Uma hora parada
Uma hora maldita
Uma hora passada
Uma hora vazia
Uma hora demais
Uma hora de menos
Uma hora em si
Uma hora que foi
Uma hora demente
Uma hora inerte
Uma hora delinquente
Uma hora louca
e mais uma

sexta-feira, 1 de março de 2013

Lugar onde fica


Meus braços tremem e minhas mãos buscam expressões contingentes.
Tento pensar o que fazer a seguinte, buscando incoerentemente um significado para tudo isso. Relembro os ciclos do passado e tento sem arrebentar ligá-los ao presente. Presente?
O que fazer com todo esse acúmulo de relíquias, onde estão os afluentes do agora?
Vou deduzindo a foz e a imensidão do vazio que me espera, onde não há em que agarrar.
Sonhando poder rodopiar no tempo...A resposta da vida é compreender a ponte entre onde fica a memória, a incerteza e o medo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Agora podia


O homem havia inventado o seu próprio código para pensar.
Sem querer, escondida em algum canto reflexivo havia a insegurança de se concentrar.
De ficar público o que antes era corriqueiro, e a partir daí o preconceito
O contato o fazia vezes amargo, e toda reunião em janta comia para si mesmo desfeito
Assim foi um dia: outro homem se aproximou, respirando difícil e aparentemente cheio de humildade
E seria muito fácil e óbvio se o tal outro homem, com o dedo da maldade
Houvesse aproveitado a distância inexorável do nada, e o gatilho tivesse puxado
Mas o que aconteceu foi que, com o instrumento na mão e brasão no peito
Tentou mudar, como se faltasse alguma coisa mudar a posição dos pés, e caiu sem escrúpulo e sem leito
O homem então voltou no tempo e foi além dele, e depois, com destemido mas nada especial jeito pode pela primeira vez pensar como se fosse livre, como se finalmente sentisse o chão, frio
E teve por um momento, que depois se pôs a questionar, a certeza de que seria assim para sempre
Durante isso que se chama de tempo infito, pensou que se daria o privilégio de pensar
Mas que para isso carregaria consigo todo dia uma arma e um brasão diferente
Presos com força porém minúcia, que se soltassem com facilidade quando fosse a hora que lhe faltasse o algo sob os pés
Pudesse, ao invés da cair daquela forma toda desajeitada, dolorosa, se deitar frente a todos os olhares da macabra histeria

No tal lugar onde só se tinha o que não tinha, e o que se tinha ainda havia de pensar, ainda então pensaria, porque agora podia.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Vejo a caminhada


O vento que sinto lá por poucas vezes e me recordo foi o vento que hoje senti aqui.
Passam me olhando atentos seguros em seus canais criaturas indignas de serem aladas.
Tentam ser discretos, como se a distância de um fosse diferente da do outro. Talvez seja mesmo, nem sequer sabem o quão fundo está no peito seus próprios corações persistentes.
Pensam sinceros para consigo mesmos enquanto andam, numa sinceridade atônita e dúbia, dentro si que se mete a achar que basta. Escorrem como um espelho rastejante, espelhos de si mesmos e que se entortam em mim. A minha própria profundidade é inconsistente, desandada, irônica, escondida no vento que clama que só quer se adiantar, enquanto zombo de tudo isso. Desespero, não, é outra coisa, mais macia e faminta, incolor.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Para não dizer que fui eu quem disse


Para não dizer que fui eu quem disse, afinal não estou só dizendo, eu escrevi para depois dizer, e afinal porque já fizeram isso de escrever de tanta responsabilidade, eu, como já disse, para evitar a responsabilidade comigo mesmo, vou dizer que foi a Maria quem disse que uma vez pensou assim:

"O conceito, aquilo que é o contorno de uma concepção, muito mais que uma palavra é mais como uma livro de leis sobre a observação daquilo a que se refere, é o que nunca vai ser. O conceito é aquilo para que lembremos do que estamos nos referindo, e nada mais. Não é uma cópia, nem o original, é um convite...
No caso de gente, de ser humano, melhor, de cidadão, um exemplo de conceito, bem sem graça, é o ato fascista por má fé. Aquele que pratica tal ato, concebendo-o como natural, não o faz por fazer, mas sim por conceber, porque se forçando a ser aquilo que acha que deve ser, acaba não sendo nada, e opta por assim ser, sem se ver sendo, mas só como é. O ato não fascista, nem de má fé, nem aquele que é sem querer, por motivo de coisas históricas as quais não desenvolveu ver, é muito mais difícil de se conceituar, porque admitindo a angústia de não saber o que é e contrariando o esforço de ser, não pára de procurar-se, e por não se aquietar, não lhe passa uma ideia de essência de conta própria, nem do contrário disso, mas apenas a preguiça e ao mesmo tempo coragem de não se responsabilizar por essa questão dicotômica, que ao ser tão conceituada por aí, parece fascista."

Mas já vi quem dissesse outra coisa por aí, de que se estamos falando de uma coisa só podemos definir outra coisa a partir do que já definimos, e assim seria impossível definir o não fascista sem, nas escolhas das pessoas, ser apenas a parte que complementa o que se diz, tão facilmente apontado, como ser fascista.

A coisa não é tão política quanto cabulosa, porque, apesar dessa busca tão turbulenta do equilíbrio entre não ser nada e não saber o que se é, agente sempre está sendo alguma coisa sem saber naquela hora o quê, até que alguém lá de fora, desenroscado da história, acaba tropeçando e caindo de braços nos nossos, e agente só vai pensar que é assim tão importante se decidir quem é, se for uma pergunta de nós juntos. E também porque juntos agente, sem se decidir, só quer ver sorrisos, até não ser mais nada.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Azulejo de piscina


Algo deve tecer um comentário
Sobre como é o ato disjunto
Embraça-se o real à força
E se desiste para que se mova
Em um piso gélido, acorrentado, jazem pés
Num foco difuso, a imagem nítida
Captura o terror e a ânsia do próximo passo
Encoberto por vapor de chumbo jaz a máquina
Mentirosa, desajeitada, errante, amoral
Foi num sonho também estraçalhadora

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Pode ser, pode não ser


Não precisou abaixar para compreender o texto no folheto. Talvez...parecia divertido. Continuou andando, era calor e não ventava.
Passado o tal dia lembrou-se: esqueceu. Não fez nenhuma menção ao assunto, porém. Foi coisa rápida, se desmembrou para procurar o telefone e não voltou mais nessa. Apenas uma divagação, até que algum empecilho de pessoa fez o tal esquecimento parecer um tópico imperdível de conversa torta. Retirou-se e esperou acabar.
Lembrou-se de Jesus. A tal cena do crucifixo era uma obra prima. Hoje Jesus nem sequer comandava mais seus apóstolos. Percebeu pela comunhão que a dramaturgia era morta e virou gerente de um lugar qualquer. Sumiu. Nos sonhos ouvira uma vez que o tal tinha consumido ópio em algum recanto, durante um tempo, nas encostas do monte Fuji.
Crucificar-se virou moda, e todo mundo usava. Não havia preconceitos, esse não era o problema real. As estéticas foram populadas, as suas sociedades mudaram de funcionamento, foram na verdade os jovens, empreendedores, que tinham mandado imprimir o maldito folheto.
Parece que agora o via pregado em todo poste de toda esquina, e as maquiagens denunciavam o público. Dizia-se: "Pode ser, pode não ser, eis a metalinguagem, por Cristo Nosso Senhor."

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Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends