quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Despertar do dia para um João falante.

O canto dos pássaros parece tornar tudo tão mais... real. Sem intermeios, sonhos ou compilações perspicazes, as folhas, a raiz tabular, a graminha baixa, o matinho alto, as pragas de trevos e as frutinhas pisadas e cheirosas, tudo, parece tão mais...tocável, tangível, nítido. Meus sentidos parecem obedecer tamanha harmonia, e os meus sentimentos e pensamentos parecem ser carregados por um mar da manhã feito de um éter eletrônico invisível.
As pessoas são demais complicadas, mas o matinho, a cadeira, a raiz, os passarinhos ou até certo grau o café,  sempre estarão lá, o mais real possível, desapercebidos, sem drama algum. É por isso que por vezes prefiro ficar sozinho e olhar o céu de nuvens, e as folhas e os trevos, estou também em sua natureza. Sempre me levanto então, e fora tudo isso, percebo que sou uma pessoa ambígua.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pancada, manhã já

Dez e pouco, quase onze, mas o ventilador "Ah que bom deixei ligado (posso deixar ligado) já que eles - aqueles que dividem o quarto - não estão aqui" - embora o edredom - e o vidro da janela aberto.
"Eles não estão aqui": pode abrir a janela e entra o sol queimando, brilha o quarto seco. Vai à pia, molha cara. "Ai ai, (outro dia)".
Sai do quarto e deixa a porta aberta - eles... - e faz café, pão novinho, leite do bom: os pais passaram ontem, deixaram presentes, deixaram a imagem de uma cachorra sendo atropelada, sangue saindo da boca. Sangue saindo da boca. Não pensaram, ele não chorou, contaram do sangue. Patas quebradas. Tinham que contar afinal. Candy...
Oferece o pão, oferece o leite, numa tentativa de melhorar o mundo, melhorar a vida - sente-se gentil.
Come bem. No banheiro, ninguém. Faz cara de satisfação: "Satisfação? Como posso? Que vida horrível, como pode? Candy... tadinha sua... tão bonitinha, fofinha e ciumenta..."
Veio pra cá pensando que ia voltar e vê-la de novo, fazer um carinho, tadinha... a vida inteira num quintal... voltar e mexer na orelinha, do jeito que ela gostava, dava aquela lambidinha. Não. Teve de agonizar sozinha.
2001-2011.
10 anos viveu com ele, todos os dias, dos mais banais - mas na manhã mais importante... Não. Sozinha. Doeu muito, muito, coitadinha.
Zombam de nós a morte a mente o carro filhadaputa cinco e meia da manhã numa curva correndo correndo para matar na pancada: Pá! - "Foi 'pá'?" - sangue saindo pela boca, patas quebradas...
Não quis nem perguntar quando.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Leitura

Uma mistura de tédio, sêde e um sono bem de leve, e agente pega o livro e começa a ler. Nossa, esse môço parece comigo: Ah! Exatamente! Mas eu não fumo tanto assim... não sou como ele. E derrepente aparece uma moça nova. Nossa, me pareço também com essa moça. Conclusão: Sou uma mistura daquele homem com essa mulher. Mas nem tanto. Como é que o cara conseguiu separar essas duas personagens? Se ficasse só em um, seria eu, acho. E continua...
Ai que sede - e começa uma dor nas costas. Vai distraindo, distraindo, perdendo o foco. Derrepente percebe que leu a mesma linha de novo: acho que vou parar, beber uma água, fazer alguma coisa. Fecha o livro num desprazer de ter lido menos do que esperava, ajeita o marca-páginas de um jeito todo cuidadoso sem querer largar, enfia beeeem no cantinho da página, como se fosse separar a brochura de tanta força. Levanta. Ai, não tem água, só um pouquinho. Come alguma coisinha, vai ver o sol lá fora, descalço - se distrai, quando vê: Nossa tô pensando em forma de livro. Tem forma, tem estilo, tem acento no êle. E o sol não é mais sol, e o chão não é mais chão: é coisa que brilha, esquenta e queima, e coisa gelada, suja e àspera. As palavras derrepente viram seus adjetivos mais charmosos, no estilo, e começa a descrever tudo, como se fosse chegar costurando num final épico.
Continua pensando sempre ousado, continua costurando umas que vão de dissolvendo na memória. Se preocupa com algo, um lapso de realidade - e sente o sol queimando realmente, continua andando, observa a sua sombra e se distrai de novo. Ai! Serão rimas? Não! Amoras! Abre o portão, entra cansado senta no computador e escreve a sua própria historinha (disciplinado) por que quando pensou em escrever já sentiu (Ai que preguiça, vontade de jogar videogame e comer um nescau cereau), e muitas das coisas ficaram esquecidas, já é um outro estilo.
P.S.: Vai editar e não consegue uma fonte boa que frize os itálicos e o espaçamento do jeito que queria.

domingo, 7 de agosto de 2011

Noite quente

Essa noite estranha, quente, que anuncia o começo de uma nova era (época do ano) - eu meço o tempo por épocas do ano, e eu me sinto velho toda a vez que eu sinto o calor morno ou o frio seco pela primeira vez em cada ano - e eu fico aqui sem sono, sem saber o que fazer. Vai ser verão, derrepente, e daí? Sinto que algo deveria acontecer, e eu fico aqui esperanto o vento trazer.

sábado, 6 de agosto de 2011

Carta à lua

Fiquei pensando hoje em você. Não pensei por muito tempo, mas pensei um tanto que não se tornaria muito desagradável de pensar, por causa que quanto mais agente pensa, mas a saudade aparece. Ai, queria estar com você em algum lugar agora. Queria estar com todos e mais alguns, em algum tipo de festinha, com picolés e drinks e luzes e Air e Pulp e tudo mais.
Fiquei aterrorizado hoje ao lembrar derrepente do calor do verão. Essas coisas de estações do ano simplesmente me chocam muito. É com elas que agente repara o tempo passando, o tempo que já foi, e o tempo incerto do futuro. Fiquei vendo fotos. Somos mesmo muito legais e muito amigos. Todos nós. Pelo menos eu trato as coisas assim. Queria que fôssemos ainda mais. Boa noite para a minha linda e para todos os outros. Beijos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Nascimento e prisão

quebram brinquedos criados do cobre
do quente sangue e é quisto
o olhar por alguém para aquém,
                                   [alhures!
dos olhares então violentos
vocifera feroz a voz vil
no sangue aquele, velada

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Pedaço Segundo

Caminhava de volta para casa rindo ironicamente de como me aproveitei da imbecilidade humana, e de como eu mesmo era imbecil.
Derrepente, num caminho estreito de concreto cercado por abismos de cerca de vinte centímetros da calçada à rua, fui emboscado por trás por um ciclista impaciente. Então lembrei das horas em que eu mesmo já fui aquele ciclista impaciente, sedento pelo ímpeto de seus pedais, sendo castrado pelo contrato social de não poder atropelar alguém em sangue frio e curtir a brisa logo após. Dei passagem. Recebi um "valeu". Hoje então recebi um "valeu" Quieto, inseguro e tímido, e provavelmente de alguém muito chato, mas me senti bem. Um "valeu". Faz tempo que não ganho um desses.
Tentei fazer um rap bobo, mas não conseguia as rimas, e já estava um pouco ofegante. Fiquei triste e chamei o mundo de imbecil.
Continuei caminhando e o cansaço começou a aparecer, meu corpo reclamava e minha alma resmungava sem que eu me desse conta, sem formar palavra alguma. Foi quando escutei um choro de criança "Quero mamãããee" Me compadeci daquele choro, me identifiquei naquela coisa toda. Eu "queria mamãe" também. Estava cansado e sofria horrores andando. Pensava em como o mundo é imbecil por eu não conseguir simplesmente voar.
Logo após lembrei de meu primeiro dia de aula. Um dos professores era claramente muito idiota. Lembrei de novo de como o mundo é imbecil.
Um cão me encarou de um jeito que pros humanos seria muito engraçado, e ri um pouco. Pensei nas coisas bonitas da vida. Pensei como às vezes penso que talvez ser cachorro seria mais legal. Um cachorro não precisa pensar nada abstrato demais, faz totalmente seu papel, e sua ocupação é sua animalidade, imaginou? Brinca e se esbraveja, e não se arrepende de nada, nem se incomoda pela falta de memória. Mas pensei que então estaria sujeito a imbecilidade de meus donos e dos motoristas nas ruas. Lembrei de como eu queria ser um cachorro porque o mundo dos humanos é muito imbecil.
Cheguei em casa e comi um chocolate. Não tinha água, então brinquei de tocar violão.

Pedaço primeiro

Enquanto esperava impaciente por uma senha, decidi desistir daquele futuro incerto e saí daquela sala. Recebi então uma proposta de ganhar um brinde, caso meu cartãozinho de papel estivesse premiado. Aqui em casa não tem água - o filtro de barro não funciona de jeito nenhum - e a informação de que um dos brindes era uma squeeze me fez pensar nas lindas tardes em que eu poderia simplesmente beber água, quando eu quisesse. E isso me convenceu. Fui até o balcão.
"Olá, queria ver se tenho um brinde"
"Pois não." - e logo depois: "Olhe, seu cartão não é um premado, sinto muito, mas você gostaria de abrir uma conta universitária?"
E foi a partir daí que a atuação começou e eu vi uma luz no fim do túnel, túnel esse cavado pelas minhas habilidades mentirescas:
"Hm... e como é essa conta?"
"É assim: bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla"
"Bla bla bla bla bla"
"Interessante, e o que tenho que fazer para abrir uma conta dessas?"
"Só traga um comprovante de residência, RG e CPF aqui para mim amanhã, e em um dia somente você já terá seu cartão e sua conta aberta"
"Okay então"
"Te deixarei tentar outro cartãozinho"
"Pois bem"
Aquele cartãozinho também não era um premiado, infelizmente - foi o que a moça disse -, mas depois saí dali com um caderno, um estojo e uma caneta., o que eu julguei ser melhor que uma squeeze.

Quem sou eu

Minha foto
Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends