sábado, 31 de março de 2012

a flexível compostura

Cada palavra, releio, respirando o espírito errante da minha caminhada vagabunda.
Hoje fui ao supermercado porque queria uma bolacha e acabei sorrindo do meu medo da noite - disse a mim mesmo.
Nunca é tarde para segurar o violão com vontade de fazer doer o braço. O  difícil é ter coragem de assumir o braço, de assumir os minutos ao invés de enganá-los.
O difícil é lembrar nos rostos o calor da pele e a cor da voz.
A melodia atonal, assim nômade, me faz querer você ao meu lado.
Peço desculpas assim por não ser tão claro em toda a felicidade dessa arte.  Quando comprometo-me demais perco a compostura.
Assim fria uma brisa tão nítida como a visão de um cãozinho atropelado, sem querer vivo sem entender como é possível se esquecer da vida de vez em quando.
E quando me lembro, esqueci do ser humano que há fora de mim, assim tão encantador.
Porém possa ser só que eu tenha esquecido do horror da civilização, mas... tomara que não.
E foi assim que o pão, a maionese, meus dedos e algumas palavrinhas bobas se encontraram com essa música da escuridão me oferecendo assim a sintaxe sem me oferecer a semântica.
Espero estar consciente, sempre, de tudo isso.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Banho

Espremida dos cantos, uma visão amarelada, escorregadia e sólida.
Passa que vai um pulso que vai pulsando o ar que vai cotovelando a lucidez que vai.
Hoje o azuleijo está limpo e se percebe perfeitamente a cor do suor de dias atrofiados, recorrentes.
Ahn?
Hipóteses, propostas, sopros mornos, difundem a luz. Luz?
E pisca a luz, da esperança sabida, desesperada. Mentira.
Era som do obscuro. Há risos, e irônicos ainda.
Há também aquela saudade do futuro mais fresco.
Solvente universal, desculpe, o que eu faço hoje?
--Ei!
--Quem é?
--Não sei.
--Como pode?
--O quê?
--Como pode me esquecer?
--Esqueci?
--Não lembro.
--Vamos?
--Onde?
--Queria que você soubesse.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Grotolândia.

Os garfos batiam nas facas, ambos batiam nos fundos metálicos das bandeijas, ambos batiam nos dentes. Mais de mil dentes. Mil garfos, mil facas, mil bocas e gestos que falavam uns com os outros em combinações de duplas, trios, ou até em redes complexas mal-dispostas sem um número bem-definido de nós dialéticos.
Sapatos batiam no chão. Tecidos roçavam. Línguas se dobravam para dentro e para cima empurrando o arroz com feijão para os tubos digestivos. Não havia som dos estômagos. Pardais, vento, máquinas de lavar-louça que vazavam vapor.
Eu mesmo estava de pé no meio disso tudo, assustado, procurando um canto, um quantuum de espaço vazio o qual pudesse atingir um estado de energia mais estável, interligaria-me a esse pseudo-ser, para ser mais um gotícula de óleo submetida aos ovos daquela maionese.
Tinha que agir rápido, não poderia sobreviver mais um pouco, ninguém sobrevive mais um pouco no lado de fora do colóide.
Vi. Achei um ponto desocupado. Rapidamente me dirigi até lá e, antes de me afundar ou de pensar em tomar alguma providência sobre uma outra meleca salgada que segurava com as duas mãos, espiei como um suricato atento meu arredor. Esperava ainda encontrar alguma salvação, uma porta, um respiro, pelo qual pudesse evaporar. Não encontrei.
Sentei.
– E aí cara?
Assustei-me, meu pescoço doeu um pouco com a rapidez do meu reflexo. Por uns intantes, os quais não pude contar, perdi a noção de todos os cinco sentidos.
– Oi, e aí Carlos?
– Marcos - apontou para outra impureza que boiava – este aqui é o Júlio. – Eu me chamava Júlio. – Sinuqueiro de Grotolândia. – Era o nome daqui.
– Prazer, Marcos.
– Júlio.

domingo, 18 de março de 2012


Objeto de um desespero sem causa
[Tum Dum - Tum Dum]
Flutuante atemporal do espaço
[
E agora?]
Repousa eloqüente
[
Freeze!]
Cheio de um absoluto não sei
[
Uma onda que não quebrou]
Uma correnteza leva
[Move-se]
As ondas não alcançam
[Mova-se!]
Um reflexo
[Um movimento – Ufa..]
Uma praia calma, leve, o sol ofusca mas sem queimar
[Por que?]
Não se sabe se o vento sopra ou não
[Acalme-se...]
0 a 24, 1 a 5 e 1 a 9, qual é mesmo a pergunta?
[Esqueci!]
Um sonho sem esperanças
[Tum Dum]
A água pesada suga num turbilhão silencioso
[Vish]
[Ai ai e agora?]
Ou será a praia, leve, onde o sol ofusca sem queimar?
[Vou dormir]
Para escapar, quem sabe, alguma outra coisa
[Lágrimas circulam como sangue pela pele]
[Dilaceração cósmica]

terça-feira, 13 de março de 2012

Dia de perdido

Hoje fui passando o dia sem fazer nada, quer dizer, só puis roupa pra lavar pela manhã.
Nem sair pra comer eu quis, esquentei em banho maria minha marmitinha congelada.
É de tardezinha, choveu muito agora pouco, mas no começinho da tarde ninguém imaginava.
Vi da minha janela uma árvore bem dourada do sol das 3, depois dormi relutante por medo de perder alguma coisa.
Então decidi fazer algo. Logo fechei a janela, por causa da chuva, e agora que abri de novo a árvore está toda bronze, cor de sol que se põe.
Mudei minhas visões. Saí da sala e vim pro quarto. O problema é esse encosto terrível.
Engraçado é falar assim, tão curtinho, porque na hora parecia que o dia inteiro estava ali.
Mas né, vamos ver, jajá é de noite e quem sabe eu faço um macarrão?
Estou mesmo perdido nesse mundo...

sábado, 10 de março de 2012

Últimas manias da madrugada sozinha
Tomando cuidado com os passos
Mas não com a mente
Percebo saudosista ao náufrago pessoal
Tudo se enche de esperança quando não há mais nenhuma
Outra esperança
Afinal o tempo passa assim desse jeito sagaz
No ritmo de uma árvore que cresce teclas de piano

Contemplação # #

Textos inversuculáveis
Mono palavreático-complexos
Narrador pseudo-onisciente
Onipresente. Onipotente?
Lá está a luz que lhe queima a pele
Que lhe dá esse calor
Que lhe dá a visão vespertina
Narrador que não narra
Estupefato pelo simples fato de que
enquanto houver o sol, ou a sua ausência,
Shhh...

Quem sou eu

Minha foto
Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends