sábado, 24 de dezembro de 2011

Poesia em prosa dissecada

O terreno público cortado por polígonos amarelos quase regulares, projetados no plano horizontal e formados pelas arestas dos mais variados sólidos resindencias, sempre lhe quis dizer algo, algo que nunca soube ao certo. Era mais como um chamado, ou um aviso. Isso também valia para o terreno quando acizentado ou fracamente alaranjado pelo horizonte nem tão poluído no descanso do sol, afinal de contas, o terreno sempre foi mutável, e então múltiplo a um grau desconhecido.
Nem em um milhão de anos conseguiria descrever perfeitamente todas as luzes, sons, cores e cheiros de todos os jeitos que já vira as montanhas, afinal, cada vez era de um jeito diferente, mesmo quando muito parecido.  Cada vez era uma vez singular.
Muitas especulações se formavam e quem sabe se formariam em sua mente - nem todas postas em teste, uma pena, mas mesmo assim, muitas. Nenhuma satisfazia, nenhuma se encaixava perfeitamente ao chamado dos sentidos, pois a cada segundo parecia entender e desentender, parecia mudar e desmudar e então mudar novamente e duvidar.
As montanhas no entanto, sempre ali. Na sua vista ou na sua condição de ser. Ser montanha e ser eu. Sempre insatisfeito em certa profundidade, já havia pensado que nem o dinheiro adiantava. Hm, o que será que me dizem as montanhas?
As montanhas, no entanto, não dizem nada, quem diz é sua cabeça enjaulada em palavras mal compreendidas - e mesmo se fosse sem elas também. Quem diz é a própria dúvida de quem diz, e o sofrimento, inevitável. Nem sempre haveriam maneiras de desfrutar completamente tudo. E nisso cai-se também em tautologia. O difícil mesmo, é ficar assim sem saber, sabendo que não há nada a se saber, sabendo que é assim que está sendo agora, sem saber o que será e a areia do que já foi. Só ficar seria pretensão demais, hipocrisia demais, estoicismo vazio, e ficar consciente seria sempre mentira, dúvida, decepção e o espelho da idiotice do ser uno, que acaba de ser surpreendido pela natureza auto-desobediente.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

crepúsculo suave trovejante

Escrever se trata de não se reprimir a alguém, conversar friamente, buscar fazer-se entender e tatear os muros das imagens e de nossa língua. Tamvém é de saber quando está ou não sendo entendido e de não ter medo de dizer "não entendi", e de sentir o vento enquanto tudo isso. Para escrever tem que ter coragem, tem que fazer uma parte de si confiar em você, mesmo que você não confie nessa parte de si. Pode ser pura hipocrisia, narcisismo, na mosca ou simplesmente um engano, mas agente percebe um trauma, um sentimento, uma situação estranha, sem deixar de ser curisoso e sem deixar de ser simpático. Sempre escrevo. Uma pena pra mim, uma humilhação talvez, que o que escrevo é na cabeça. As frases pulam num mar efervescente cujas bolhas emergem conversando entre si, mas depois de um tempo de risos e depois que o sol se põe, o vento leva todo vapor embora, diluído.
Pode ser falta de modéstia, mas também é dureza e coragem, de dizer que assim eu fico triste, porque se eu falo que já escrevi o maior romance, cheio de amor, de ironia, acidez, doce e amargo, com humor e com brilho, ninguém acredita, fora eu.

domingo, 13 de novembro de 2011

Pelas ruas sem asfalto, empoeiradas ou lamacentas, de um bairro semi-rural, entre vira-latas e velhas queimadas pelo sol e pelo forno, passa um rapaz saído de casa, gel do cabelo, tênis da nike, bermuda boa e pulserinha. Vai ver os amigos da cidade, não gosta de ser pobre nem de roça, achou ruim ter sido visto ali.
Se um dia brigar com os mimados com quem anda, será que vai defender sua terrinha, sua mãe e seu vocabulário? Ou será que vai virar traidor, jogando pedra no seu priminho e negando três vezes a receita da sua vó de biscoito de polvilho?


a causa é claro não é pequena
não importa tamanho de carteira,
e do poder da sua antena
independente de quanto queira

sábado, 12 de novembro de 2011

Melodia de um verão de feriado

Vivi hoje e ontem uma das maiores purezas de toda a animalidade que pode existir entre um ser humano civilizado e uma cachorrinha doméstica: ela fez xixi no meu pé, duas vezes - enquanto abraçava a minha coxa tentando me escalar e alcançar minhas suculentas mãos vazias.
Esse escapismo do meio tenso que vivo, e o clima - que agora posso admirar menos preocupado - é claro que me fazem vir aqui.
Sentei ontem naquela varanda, naquela cadeira praia, companheiras minhas desde anos e livros, fiquei olhando o céu e os passarinhos e pensei que nada era tão bom quanto aquilo quanto aquilo mesmo quando estiverem aqui as pessoas que eu mais amo. Ventava vento, ventava chuva rala e pontiaguda, e enquanto o frio não vinha, fiquei ali pensando forte nos meus melhores amigos só para ver se de repente eles apareceriam assim do nada como uma projeção mental.
Hoje cochilei, lembrei que tenhos revistas e mais livros, lembrei que tenho até dezembro todos os canais de filme, e mesmo assim não deu vontade de fazer nada.
Aqui os passarinhos cantam diferete, de um jeito mais charmoso, que enche a tarde, enquanto que em outros lugares os passarinhos cantam até mais, mas as pessoas falam e a barriga dói.
Parece que já é natal.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uma bagunça

Engula o orgulho
Suas sinapses não são só suas
Não se restrinja
Você é também toda essa bagunça que faz sobre
Bolhas que escapam dessa
Prisão ofuscante
São tudo o que pode se dissernir
Cure as palavras
Por acidente, amo alguns de vocês

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Meu

Esse vai um desses só pra mim. Comi hoje numa churrascaria com um amigo, sem pensar no dinheiro.
Esse final de semana aconteceram várias coisas, ainda continuando implícitas aqui e ali, e se tudo der certo, sempre continuarão até que eu morra, e quem sabe?
Um desses sonhos que nos vêm mas que às vezes temos certo receio, como a imortalidade, é o meu devaneio em ter uma memória acumulativa simultânea em alta definição, com informação sobre tudo o que eu vi, pensei, escutei, cheirei, toquei e todos os sabores, como se a minha vida fosse se acumulando e acumulando e que eu pudesse sempre em mente presenciar esse filme no momento exato que quero, em detalhes perfeitos.
Cansei de estudar isso e aquilo, de falar isso e aquilo, de ter que parecer isso e aquilo, de não poder esbravejar com quem eu quero quando eu quero, mas que bom que ninguém é assim comigo. O mundo dos sonhos poderia ser tão importante e constante quanto a realidade de alguém desperto. Quero mesmo é sei lá. Quero o que deus quer pra mim. Ah, se fosse fácil assim.
Estudar aquilo que me dá vontade, não dá mais tanta vontade quando eu me imagino deitado num abraço aconchegante.
Meus desejos se batem com meu sono, essa noite aqui, desse dia tão diferentemente igual.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Saudade

Essa vontade de estar fazendo algo e mesmo assim ter uma certa preguiça de se levantar, porque nada seria suficiente bom para se fazer.
Parece que acabamos de acordar quando na verdade nem dormimos, e então supostamente a próxima coisa do dia, a continuação, não vem.
Um dia calmo, sem ninguém em casa ou na rua, e assim quieto, e só. Mesmo assim a janela nos convida ensolarada e bela, nos expulsando da inércia sem rumo aparente.
As coisas talvez fiquem nostálgicas, mas aquele impulso que nos traz sempre a dúvida de porque ainda estamos parados não nos deixa nem concentrar em absolutamente nada, nem ao menos no sono que acaba vindo, e não conseguimos nem dormir.
Tudo o que só pode fazer é ficar ali a espreita, esperando passar uma parte do dia a qual vamos agarrar às pressas.
Fora isso tudo, eu tomei coragem de vir aqui, e agora que estou aqui, pensei em porque não já não ir ao mercado comprar aquele pão de sal que falta? E quem sabe que surpresas nos esperam no asfalto quente...e na saudade?

domingo, 4 de setembro de 2011

?

Vomito de pés suados o pouco que tenho do sol que entra. Os pernilongos não param de me perseguir, sinto-me acuado. Não há ninguém aqui por quem valha comer as frutas que eu tenho na geladeira. Persisto não afundar nessa areia mesmo sem saber se realmente há um fundo, limpando as sobras do vomito da minha garganta arranhada, tento olhar para as paredes e ver se enxergo alguma solução, alguma companhia, mas continuo sempre enjoado, perturbado, tonto e fedido. Não há banho, masturbação, comida, som, sabor, nada, não há nada. Nem o calor mesmo eu percebo direito, somente as minhas mãos se mexem inescrupulosas buscando os dorsos dos insetos que me cercam.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Despertar do dia para um João falante.

O canto dos pássaros parece tornar tudo tão mais... real. Sem intermeios, sonhos ou compilações perspicazes, as folhas, a raiz tabular, a graminha baixa, o matinho alto, as pragas de trevos e as frutinhas pisadas e cheirosas, tudo, parece tão mais...tocável, tangível, nítido. Meus sentidos parecem obedecer tamanha harmonia, e os meus sentimentos e pensamentos parecem ser carregados por um mar da manhã feito de um éter eletrônico invisível.
As pessoas são demais complicadas, mas o matinho, a cadeira, a raiz, os passarinhos ou até certo grau o café,  sempre estarão lá, o mais real possível, desapercebidos, sem drama algum. É por isso que por vezes prefiro ficar sozinho e olhar o céu de nuvens, e as folhas e os trevos, estou também em sua natureza. Sempre me levanto então, e fora tudo isso, percebo que sou uma pessoa ambígua.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pancada, manhã já

Dez e pouco, quase onze, mas o ventilador "Ah que bom deixei ligado (posso deixar ligado) já que eles - aqueles que dividem o quarto - não estão aqui" - embora o edredom - e o vidro da janela aberto.
"Eles não estão aqui": pode abrir a janela e entra o sol queimando, brilha o quarto seco. Vai à pia, molha cara. "Ai ai, (outro dia)".
Sai do quarto e deixa a porta aberta - eles... - e faz café, pão novinho, leite do bom: os pais passaram ontem, deixaram presentes, deixaram a imagem de uma cachorra sendo atropelada, sangue saindo da boca. Sangue saindo da boca. Não pensaram, ele não chorou, contaram do sangue. Patas quebradas. Tinham que contar afinal. Candy...
Oferece o pão, oferece o leite, numa tentativa de melhorar o mundo, melhorar a vida - sente-se gentil.
Come bem. No banheiro, ninguém. Faz cara de satisfação: "Satisfação? Como posso? Que vida horrível, como pode? Candy... tadinha sua... tão bonitinha, fofinha e ciumenta..."
Veio pra cá pensando que ia voltar e vê-la de novo, fazer um carinho, tadinha... a vida inteira num quintal... voltar e mexer na orelinha, do jeito que ela gostava, dava aquela lambidinha. Não. Teve de agonizar sozinha.
2001-2011.
10 anos viveu com ele, todos os dias, dos mais banais - mas na manhã mais importante... Não. Sozinha. Doeu muito, muito, coitadinha.
Zombam de nós a morte a mente o carro filhadaputa cinco e meia da manhã numa curva correndo correndo para matar na pancada: Pá! - "Foi 'pá'?" - sangue saindo pela boca, patas quebradas...
Não quis nem perguntar quando.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Leitura

Uma mistura de tédio, sêde e um sono bem de leve, e agente pega o livro e começa a ler. Nossa, esse môço parece comigo: Ah! Exatamente! Mas eu não fumo tanto assim... não sou como ele. E derrepente aparece uma moça nova. Nossa, me pareço também com essa moça. Conclusão: Sou uma mistura daquele homem com essa mulher. Mas nem tanto. Como é que o cara conseguiu separar essas duas personagens? Se ficasse só em um, seria eu, acho. E continua...
Ai que sede - e começa uma dor nas costas. Vai distraindo, distraindo, perdendo o foco. Derrepente percebe que leu a mesma linha de novo: acho que vou parar, beber uma água, fazer alguma coisa. Fecha o livro num desprazer de ter lido menos do que esperava, ajeita o marca-páginas de um jeito todo cuidadoso sem querer largar, enfia beeeem no cantinho da página, como se fosse separar a brochura de tanta força. Levanta. Ai, não tem água, só um pouquinho. Come alguma coisinha, vai ver o sol lá fora, descalço - se distrai, quando vê: Nossa tô pensando em forma de livro. Tem forma, tem estilo, tem acento no êle. E o sol não é mais sol, e o chão não é mais chão: é coisa que brilha, esquenta e queima, e coisa gelada, suja e àspera. As palavras derrepente viram seus adjetivos mais charmosos, no estilo, e começa a descrever tudo, como se fosse chegar costurando num final épico.
Continua pensando sempre ousado, continua costurando umas que vão de dissolvendo na memória. Se preocupa com algo, um lapso de realidade - e sente o sol queimando realmente, continua andando, observa a sua sombra e se distrai de novo. Ai! Serão rimas? Não! Amoras! Abre o portão, entra cansado senta no computador e escreve a sua própria historinha (disciplinado) por que quando pensou em escrever já sentiu (Ai que preguiça, vontade de jogar videogame e comer um nescau cereau), e muitas das coisas ficaram esquecidas, já é um outro estilo.
P.S.: Vai editar e não consegue uma fonte boa que frize os itálicos e o espaçamento do jeito que queria.

domingo, 7 de agosto de 2011

Noite quente

Essa noite estranha, quente, que anuncia o começo de uma nova era (época do ano) - eu meço o tempo por épocas do ano, e eu me sinto velho toda a vez que eu sinto o calor morno ou o frio seco pela primeira vez em cada ano - e eu fico aqui sem sono, sem saber o que fazer. Vai ser verão, derrepente, e daí? Sinto que algo deveria acontecer, e eu fico aqui esperanto o vento trazer.

sábado, 6 de agosto de 2011

Carta à lua

Fiquei pensando hoje em você. Não pensei por muito tempo, mas pensei um tanto que não se tornaria muito desagradável de pensar, por causa que quanto mais agente pensa, mas a saudade aparece. Ai, queria estar com você em algum lugar agora. Queria estar com todos e mais alguns, em algum tipo de festinha, com picolés e drinks e luzes e Air e Pulp e tudo mais.
Fiquei aterrorizado hoje ao lembrar derrepente do calor do verão. Essas coisas de estações do ano simplesmente me chocam muito. É com elas que agente repara o tempo passando, o tempo que já foi, e o tempo incerto do futuro. Fiquei vendo fotos. Somos mesmo muito legais e muito amigos. Todos nós. Pelo menos eu trato as coisas assim. Queria que fôssemos ainda mais. Boa noite para a minha linda e para todos os outros. Beijos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Nascimento e prisão

quebram brinquedos criados do cobre
do quente sangue e é quisto
o olhar por alguém para aquém,
                                   [alhures!
dos olhares então violentos
vocifera feroz a voz vil
no sangue aquele, velada

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Pedaço Segundo

Caminhava de volta para casa rindo ironicamente de como me aproveitei da imbecilidade humana, e de como eu mesmo era imbecil.
Derrepente, num caminho estreito de concreto cercado por abismos de cerca de vinte centímetros da calçada à rua, fui emboscado por trás por um ciclista impaciente. Então lembrei das horas em que eu mesmo já fui aquele ciclista impaciente, sedento pelo ímpeto de seus pedais, sendo castrado pelo contrato social de não poder atropelar alguém em sangue frio e curtir a brisa logo após. Dei passagem. Recebi um "valeu". Hoje então recebi um "valeu" Quieto, inseguro e tímido, e provavelmente de alguém muito chato, mas me senti bem. Um "valeu". Faz tempo que não ganho um desses.
Tentei fazer um rap bobo, mas não conseguia as rimas, e já estava um pouco ofegante. Fiquei triste e chamei o mundo de imbecil.
Continuei caminhando e o cansaço começou a aparecer, meu corpo reclamava e minha alma resmungava sem que eu me desse conta, sem formar palavra alguma. Foi quando escutei um choro de criança "Quero mamãããee" Me compadeci daquele choro, me identifiquei naquela coisa toda. Eu "queria mamãe" também. Estava cansado e sofria horrores andando. Pensava em como o mundo é imbecil por eu não conseguir simplesmente voar.
Logo após lembrei de meu primeiro dia de aula. Um dos professores era claramente muito idiota. Lembrei de novo de como o mundo é imbecil.
Um cão me encarou de um jeito que pros humanos seria muito engraçado, e ri um pouco. Pensei nas coisas bonitas da vida. Pensei como às vezes penso que talvez ser cachorro seria mais legal. Um cachorro não precisa pensar nada abstrato demais, faz totalmente seu papel, e sua ocupação é sua animalidade, imaginou? Brinca e se esbraveja, e não se arrepende de nada, nem se incomoda pela falta de memória. Mas pensei que então estaria sujeito a imbecilidade de meus donos e dos motoristas nas ruas. Lembrei de como eu queria ser um cachorro porque o mundo dos humanos é muito imbecil.
Cheguei em casa e comi um chocolate. Não tinha água, então brinquei de tocar violão.

Pedaço primeiro

Enquanto esperava impaciente por uma senha, decidi desistir daquele futuro incerto e saí daquela sala. Recebi então uma proposta de ganhar um brinde, caso meu cartãozinho de papel estivesse premiado. Aqui em casa não tem água - o filtro de barro não funciona de jeito nenhum - e a informação de que um dos brindes era uma squeeze me fez pensar nas lindas tardes em que eu poderia simplesmente beber água, quando eu quisesse. E isso me convenceu. Fui até o balcão.
"Olá, queria ver se tenho um brinde"
"Pois não." - e logo depois: "Olhe, seu cartão não é um premado, sinto muito, mas você gostaria de abrir uma conta universitária?"
E foi a partir daí que a atuação começou e eu vi uma luz no fim do túnel, túnel esse cavado pelas minhas habilidades mentirescas:
"Hm... e como é essa conta?"
"É assim: bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla"
"Bla bla bla bla bla"
"Interessante, e o que tenho que fazer para abrir uma conta dessas?"
"Só traga um comprovante de residência, RG e CPF aqui para mim amanhã, e em um dia somente você já terá seu cartão e sua conta aberta"
"Okay então"
"Te deixarei tentar outro cartãozinho"
"Pois bem"
Aquele cartãozinho também não era um premiado, infelizmente - foi o que a moça disse -, mas depois saí dali com um caderno, um estojo e uma caneta., o que eu julguei ser melhor que uma squeeze.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Como as musas funcionam

            Z. acordou com um pedacinho de sol no peito regurgitado pela fresta de concreto à sua esquerda e uma mente afiada. Achava que nunca tinha escrito nada de bom na vida, mas essa manhã ele sentia como se as palavras fossem escravas de sua brilhantia, e pensou em sentar e escrever trezentas e doze páginas do romance mais apaixonante que já se vira, recheado de poesias de todos os tipos da mais fina beleza lírica. Z. faria até mesmo os grandes e conservadores pais de família derramarem rios de lágrimas e abraçarem suas esposas feias enquanto liam as malditas benditas linhas. Pensou em acabar aquela história com a descrição de uma cena de sexo do o ardor mais intenso e minucioso, seguida por fim de um rapaz sorridente e contente, como se o mundo inteiro estivesse dentro de si, tocando belas e românticas notas alegres cuspidas de um violão velho quase desafinado.
            Antes que pudesse começar, levantou com o pé direito, abriu por completo as cortinas e as janelas, acenou para o vizinho que tímido passava com uma sacola de padaria e, enquanto pensava - ou melhor, não podia parar de pensar nas primeiras palavras de sua história, como se um dique do néctar lírico do amor se tivesse estourado em sua cabeça, correndo e avançando e se espalhando violentamente espumoso por sua alma que agora se tornara doce e morna - dirigiu-se, com o rosto à frente, à torrente fria da água cristalina da sua pia de banheiro, que refletia um primeiro reflexo e depois formava um belo arco-íris do vaso sanitário ao chuveiro.
As primeiras palavras deveriam ser aquelas que surpreenderiam o leitor, arrebatariam-no se sua vida maçante e o jogariam num universo com tal paixão da qual não se poderia desfazer até que a contra capa fosse  suavamente tocada e guiada para sobre a última página, e o livro fosse fechado pela última vez em uma tarde ou manhã quaisquer.
            Enquanto se afogava nas correntezas da língua francesa - porque queria escrever em francês, como se frizasse as pontadas de romance -, Z. caiu sem se reagir e sem se preparar num poço da mais descritível envolvente maestria: a saudade de sua amada seduzia-o como nunca antes a correr até a mesma pela última vez antes que iniciasse sua jornada em papel. Era exatamente o tipo idealizado de coisa que Z. teria passado aos seus leitores logo à primeira vista. Ferido pelo cupido mais duro e poderoso, Z. não se conteve - ele precisava vê-la como um dependente químico precisa de seu objeto de dependência pela última vez antes do resto do dia, ele tinha de qualquer forma que trocar a mesma brisa com sua musa suprema antes de tudo - e pôs sua calça, pegou sua blusa, caminhou ao som entorpecente dos pássaros da manhã munidos dos raios aconchegantes do sol tímido até a porta dela, que não era longe dali, e tocou a campainha como só ele sabia e só ela compreendia.
            Ela demorou menos de um minuto, que foram horas a Z., e por fim abriu vagarosamente a porta e o cumprimentou com o sorrizo que só ele experimentara. Trocaram um beijo longo,e foi assim que Z. deixou de saber o que fazer - não sabia de mais nada -, o beijo simplesmente exigia dele todo seu calor e não havia mais história alguma. De uma hora para outra, Z. perdeu toda a sua capacidade de pensar, porque não fazia nada além de guiar as premissas básicas do cérebro que traduzia os estímulos de seus lábios aquele momento. Não havia nada mais no infinito todo que merecia a sua atenção. Z. não chegou a voltar para casa, ficou ali o dia todo, e de noite saíram para jantar com os amigos, e dormiram juntos, e no dia seguinte, foram visitar o litoral.

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Parte II


X. acha beleza em tudo, em como as pessoas podem acordar bem cedo para limpar uma parte meio esquecida de um armário, ou para varrer a calçada não importa se está ventando. Mas ao mesmo tempo X. tem um certo nojo, um nojo de uma humanidade tão passiva e que se destrói. Não faz sentido, pensa ele.
X. acha que algumas coisas as pessoas deveriam perceber que não têm sentido algum. Porque as pessoas brigam tanto? X. imagina um mundo onde não há brigas. Se tudo não faz sentido algum, porque alimentar alguma delas, uma que causa desconforto e tragédia? X. quer somente que as pessoas liguem para o que é gostoso, mesmo que não exista sentido ou motivo para algo ser gostoso. Será que é gostoso brigar? Porque somente não se para com isso?
Espera sempre algo que venha e o arrebata, algo que o deixe defasado do vazio e da inquietude, um abraço quente, um suco de maracujá, um reflexo curisoso, um cheiro horrível. Mas nenhuma droga. X. não gosta de drogas, tem medo delas por alguma coisa. Fica desesperado se algo o atrapalha de pensar direito, mesmo sabendo que pensar é algo desprovido de razão. Fica com medo de disperdiçar a vida sóbrio, a cor de uma borboleta, o gosto do suco de maracujá.
X. queria viver num filme de cinema, com um diretor e um roteiro, onde não teria que lidar com os humanos — pois o roteiro já estaria pronto — e onde os tiros fossem de mentira e os beijos fossem de verdade. E também se viveria para sempre em algum lugar.


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Parte I


X. sempre acha que nada tem sentido algum. Acredita que vida não possui sentido, o amor não possui sentido, a história não possui sentido, mesmo a matemática é desprovida do sentido. X chega mesmo a duvidar da palavra “sentido”.
Sempre chega alguém feliz e alegre, com alguma novidade, algum projeto, alguma conclusão tão óbvia, um jogo de lógica brilhante, algo que poderia ganhar um prêmio por alguma coisa, mas X. simplesmente nunca consegue se empolgar, aquilo para ele simplesmente não tem sentido algum. A mesma coisa acontece com aqueles che chegam tristes e aborrecidos, X. fica sem saber o que fazer, nada não passará de algo sem sentido.
Algumas pessoas se perguntam e mesmo perguntam a X., de um jeito indireto, como se houvesse um certo receio que elas deveriam deixar claro — receio do que vão ouvir ou talvez se irão ofendê-lo — perguntam como X. consegue viver assim, como pode haver uma vida sem sentido, como as coisas se encaixariam se não houvesse sentido nelas? Como se pode sorrir com algo que não faz sentido?
Mas X. se sente disconfortabilíssimo, porque simplesmente não há resposta, nada tem resposta, nenhuma resposta tem sentido, nem mesmo aquelas perguntas. X. começa a se questionar: porque perguntaram aquilo? Que sentido faz? Com que finalidade e o que elas esperam ouvir? O que eu deveria responder? Mas nada, nada acontece com ele, e finalmente chega-se a conclusão: Ah! Vou parar de pensar nisso, não tem o menor sentido!
Mesmo assim X. às vezes se empolga, quer fazer algo grandioso, quer que as pessoas entendam-no, quer que as pessoas se entendam, quer dar um sentido aquele momento. X. sempre pensa em escrever um belo poema, mas ele nunca consegue um verso. Mas tem certeza de que, se um dia escrever aquele verso, o mundo será abalado.
X. não tem certeza de nada, e a sua verdade é a incerteza, mas isso só antes de X. perceber que não pode existir uma verdade, porque uma verdade tem que fazer sentido.
Isso não o impede nunca de sorrir, de se esbravejar e de fazer coisas que seres normais fazem. Para isso, X. deve se concentrar apenas um pouquinho, deixar que seus instintos animais o levem para uma branda ilusão. Porém, é uma ilusão muito esburacada e frágil, X. é fraco, ele não se sustenta muito se alguém o questiona esperando que ele responda algo que faça sentido.
X. vive uma dura vida, uma vida de poucos momentos de ilusão, e mesmo assim, X. ama todo o tempo. Não que ele consiga explicar o tal sentimento e a tal vontade, não que consiga conversar sobre ela, sobre o amor, não que consiga conversar sobre algo sério, algo que deve ter sentido, que deve contentar alguém de alguma razão, não que consiga conversar. Se X. uma hora argumentou, quis alguma coisa, brigou por alguma coisa ou discutiu alguma coisa, é porque aquilo o incomodava de alguma maneira, machucava, ou causava e causaria algum prazer animal, ou por um momento pequeno ele fingiu que aquilo tudo fazia sentido, só para ser solidário com alguém, por nenhuma razão que faça sentido.
X. queria saber brincar de ser humano direito, desse faz de contas sobre sentimentos e palavras, disso tudo. Acho que em alguns momentos ele iria gostar da brincadeira. Ele queria saber lidar com as pessoas, e com ele mesmo, sem passar vergonha, não que ele ligue para a vergonha. X. nem consegue imaginar como seria um mundo ideal, porque ele se perde. X. não quer morrer, porque é curioso e gosta de um prazer ou de outro. Porque morrer simplesmente não faz sentido.
X. se aquece no sol e aprecia a brisa, com suas entranhas vazias, ocas e inquietas.


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domingo, 3 de julho de 2011

Meu amor plural, que fique assim

Com problemas ou sem problemas,
aqueles que vem e aqueles que ficam e que estão por vir,
que agente espera ou que agente não espera,
ou os que sempre estiveram esperando,
com muitos chapéus talvez,
que tem uma ou duas cachorras
cheios de muitos cachorrinhos,
têm irmãs ou têm irmãos e irmãs,
têm filhos ou filhas
esposas, namoradas ou que procuram muitas
apaixonados...
Mais novos, mais velhos, iguais, ou bem mais velhos
Conversam ou até cantam
com violão, gaita ou violino e teclado
Sempre cheios de histórias, às vezes também querem ouvir.
Idéias que surgem, piadas e experimentos socias.
Com pães ou refrigerantes
ou textos e poesia
Cada jeitinho, no plural,
O amor plural
Para cada um dos meus amigos

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pela dor e pela cor.

Hoje eu me sinto num daqueles dias que eu entraria numa discussão por qualquer coisa. Eu começo a pensar em escrever a centenas de metros e não paro mais, é uma maldição. Ontem eu perdi meu estojo, ele era preto e tinha escrito Punk em vermelho em um dos lados dele, em cola colorida desgastada. Eu devia ter aquele estojo por uns 10 anos e nele tinha coisas com grande valor pra mim, eu sinto que um amigo morreu, sabe? Pior, eu sinto que um amigo foi sequestrado e vai ficar trancado na casa de alguém até morrer, e todo mundo sabe disso, e não há jeito para eu achá-lo; e todo mundo nem liga, nem me consola, porque não é um amigo deles, filhos d.... Eu resolvi mandar e-mails pra todos que eu conheço que estudam na mesma faculdade que eu - porque eu perdi lá - e quando fui criar um tópico na comunidade do orkut sobre isso, apareceu a mensagem que dizia que o dono tinha me expulsado daquela coisa. Cacete, eu nunca escrevi nada lá, se eu escrevi foi procurando uma outra coisa que eu não me lembro, e o cara me expulsa? POR QUE? ... E ainda por cima tem o lance que agora estou cheio de provas e tenho que ficar emprestando o lápis e borracha de todo mundo, que são sempre piores que os seus próprios, por algum motivo imbecil que te irrita profundamente.

Ainda hoje na aula chegou uma mulher atrasada, com um sobretudo vermelho, um sapato vermelho, uma porra de uma pedra vermelha gigante no dedo (anel) e ainda por cima quando sentou, tirou da bolsa um ÓCULOS vermelho, e também tinha as unhas vermelhas. Eu queria mesmo é ter me levantado cordialmente, ido até a garota e cumprimentar ela, com uma daquelas coisinhas que dão choque que você gruda da palma da mão, sabe? - ou então ter tipo uma arminha da paintball e ter pintado ela inteira de tudo, menos vermelho, ou ter visto uma caneta azul estourar na cara dela. Nem sei porque isso me irritou, mas me irritou, as pessoas não deviam se vestir todas da mesma cor, ainda mais se for vermelho, ou amarelo ou laranja...ou preto.

Por motivos que não falarei aqui, vou colocar um título bem cafona nesse negócio.

terça-feira, 14 de junho de 2011

I'm feeling rough, I'm feeling raw, I'm in the prime of my life

This is our decision to live fast and die young
We've got the vision, now let's have some fun
Yeah it's overwhelming, but what else can we do?
Get jobs in offices and wake up for the morning commute?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Saudade, amigos

Saudade, reflexos de um amigo numa superfície de café frio
Dessas de verdade, afinando o violão na garagem da namorada
Maldade, aqui sozinho tremendo sem saber o que se passa na vida
Felicidade, imaginar nós de novo, um dia, pela manhã à noite

Mesmo sabendo que não vai ser tão entorpecente
Quero ver de novo na praia o sol nascente!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sobre luzes verdes no céu

Pequenos flashes do escuro pouco iluminado num ponto alto. As pupilas se dilatam e as cadeiras se ajeitam para que a luz do poste, antes fraca, pare de nos perfurar os olhos. Inquietude ou calmaria, conversas suaves, gostosas e tristemente profundas. Sensíbilade, clareza, é assim que chamava-se, tanto faz, o importante é que eram.
E agora tenho que me adequar a tudo isso, sem que me entendam, de verdade. São poucos os que se entregam tão facilmente, mesmo que para os inerentes bem-escolhidos. É bem difícil não ser chato, mas a primeira impressão é a que importa. Noite estranha, muitas responsabilidades, pouco tempo, dor de barriga. E foi assim que a chuva hoje não me impediu de um tempo de caminhada e um dinheiro ambos de 20, me levassem a chocolates e bolachas em exagero.
Mas que mundo é esse tão cruel?

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mesmo escrevo

Faz tempo que não escrevo, e sempre, desde que escrevo, começo muitos dos meus escritos com "Faz tempo que não escrevo". Isso significa a ver de muitos que não tenho mais nada para dizer. De fato, no entanto nunca tive nada para dizer, ou melhor, tive, e tenho, mas já me cansei.  Digo à mim mesmo, para me aliviar. Não escrever significa que estou aliviado, é bom, significa que não estou tentando desesperadamente me prender às coisas, mas que as estou vivendo num fluxo mais confortável.
As pessoas não se entendem, eu sei, digo, literalmente não se entendem, a linguagem é falha. Por isso cheguei a pensar a expor-me para que tentassem entender minhas palavras mais próximas ao meu ângulo, mas impossível, nem eu mesmo sei me expor sem que a exposição não seja também falha. Tudo é falho, tudo o que sai de mim, de você e do outro.
Mas eu admito isso com uma tristeza bem sincera.
Talvez estja entorpecido nela, talvez não, mas se sim, que assim fique, porque assim funciona bem em mim.

domingo, 15 de maio de 2011

Alegria

Puxa eu queria uma máquina que escrevesse meus pensamentos. Aquela que passasse direto da minha cabeça para o papel. Mas afinal, estou sob efeito de vinho agora, e nessa hora as coisas vêm à cabeça meio que se atropelando umas às outras, como se a poesia desabasse seus versos em frases inteiras em um texto em prosa. É lírico, mas sem métrica, e sem rima. O mais humano dos líricos.
Ah! a alegria, é algo que não se deve deixar passar! Eu sei que tristeza é inevitável e imediata, e não é legal. A alegria é um tesouro, um achado, uma pedra fria, desconhecida e espontânea, num caminho circular de pedras em brasa em que estou condenado ao resto de minha vida. Não! não sou um pessimista schopenhauriano, sou sim um trágico nietzschiano. Não peço que fiquem com dó de minha pessoa, mas que sejamos alegres, vivendo e vivendo cada vez mais do mesmo em nosso eterno retorno. E que se dane a metafísica!!! Suposições e magias fazem os africanos morrerem de fome e os brazileiros também.
Mas enfim, a tal máquina de escrever que idealizei acima, não existe, é somente platônica, estamos preso à essa camisa de força, que não deixa nossos impulsos se concretizarem em movimentos, que podemos chamar de linguaguem.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Tarde de hoje

Hoje eu só queria deitar no meio da rua e assistir as borboletas passarem.
Estava andando quando me deparei com uma garota num banco, com um violão e com uma bela voz. Naquele momento, queria que meu corpo fosse reduzido a meu aparelho auditivo, e eu ficasse ali, caído e imóvel no chão, sem dor, bizarro, escutando, e só. A alguns passos dali, mas de forma que os sons não se misturassem, um coral. Graves interrompiam a canção de uma forma divertida. E eu, de novo, só queria que algo me prendesse ali, contra a minha vontade, como se não houvesse nada que eu pudesse fazer para escapar, e como se a culpa não interferisse no ar.
Depois estava fazendo contas, com dor de cabeça, em uma sala lotada com pessoas na mesma situação. Agora cansado, mais uma vez, em casa.

The Paradoxal Ironic Sadness (by myself)

I feel this thing around my chest, pushing in all directions. It is choking me, and I can do nothing, I can't even target at this thing. I have so much to do, now and later, and past. But I just can't do it. I have this excruciating will of doing so, but in the other hand, I don't! I just don't know what to do with myself. I start something, I wanna stop. Stop for what? - I ask myself, and the answer is: I wanna keep going, It's so cool, but I can't stand it anymore. Maybe it is just the lack of sleep, I've just rested my eyes about 3,5h this night, It was difficult to open the burning-blood eyes I had back then. And why - please why!! - am I doing this in English??? You know, I think this answer will have no use at all, I don't care why, I just want something, and everything that seems touchable, I wanna touch, and then not to.
I feel terrible things everysometime, about death and stupidity and so long, but this is not one of those monsters, this is just an insect, invisible, untouchable, that only I can feel its temperature. No one cares about me, no one would understand, no one would help me postponing a test at university with this excuse, every one just thinks I'm a failure, because They just can't feel this boringness. Please pass. Come on mood shift, shift back to good again, come on be a friend. I and just can't believe this. Ironic sadness.

domingo, 8 de maio de 2011

Os rascunhos de um prólogo ruim

X. era um rapaz sagaz que durante sua infância sofreu diante de muitos fracassos, assim como de muitos sucessos, sendo que a diferença entre eles era que os fracasssos o levavam a uma humilhação desconfortável, enquanto que os sucessos uma confortável humilhação. Por isso, nunca se importou com seu nome. De fato, essas pequenas vitórias o afastavam ainda mais do futuro que o esperava.
Era atormentado por espasmos de dedicação, e neles, se ausentava e se punha totalmente enclausurado, afim de conduzir sua vida pelo seu comando. Por esse mesmo motivo, não conseguia nunca na escola fazer trabalhos em grupo com sinergia, sempre achava que se fizesse sozinho, pelas suas próprias regras, o trabalho saíria da maneira ideal, e ainda por cima, era tímido, receioso de acabar sendo mais uma vez humilhado.
Porém X. tinha idéias. Essas idéias no entanto eram totalmente nascidas da sua vontade de vingança para consigo próprio, por não ter se dominado completamente, por ter perdido o que perdeu e ter ganho o que ganhou. Parava de valorizar quaisquer conquistas que outros poderiam valorizar, e fazendo uma imagem de tudo aquilo que ninguém, nem mesmo ele, achava confortável, tentava imitá-la com exatidão. Achava em seu desconforto e masoquismo algo de superior àquela gente detestável e vil, que ria de seus fracassos e lhe presenteava de vitórias que faziam concretizar a sua inofensividade, inferioridade e dominação passiva. X. adquiriu visão noturna, e dormia bem com sua vingança, era sua melhor amiga e seu maior mestre. Nunca estava sozinho sem ela, e gostava de estar sozinho com ela, na escuridão, onde escondido, dele nada lhe era escondido. Aprendeu a manipular seus gostos, a ser servil de sua idéia e lhe instaurou nela intensa disciplina, que tomou pouco a pouco uma dimensão própria, como um personagem criando vida independente de seu autor. Nesse ponto, X. era contente e ao mesmo tempo vazio, podia interpretar qualquer papel, e, ao invés de se humilhar com suas vitórias, tirava vantagem delas, separando de si mesmo aquele que era antes, e chicoteando-o em ato de vendetta, sentia-se nobre, e muito esperto. Esse sentimeento de vingança não era mais tão simplesmente evocado com tão simples palavra, talvez fosse um pouco de soberba, ou quem sabe, litost, mas chamarei agora de somente 'o sentimento' (mas leitor, por favor, não aja como se o termo 'sentimento' que se encontra nos dicionários tem algo haver com isso, poderia ter dado um nome qualquer, como 'cavalo', por exemplo, não vamos nos ater a nomes).X. podia ser o menino mais amável de sua vovózinha e o mais educado e inteligente de sua escolinha, mas ria-se de si mesmo em seu interior como quem ri de um plano secreto perfeito, sua ironia era implacável. Daí o vazio que o atormentava: o plano secreto nunca caía em suas mãos. Passava os dias tentando encontrá-lo em sua cabeça, consciente e inconscientemente, e pedia ajuda à todos os deuses e musas. Mas mesmo assim vazio, sentia-se melhor, já que agora essa era a única coisa que lhe doía e pela qual podia se culpar. Qualquer outra não lhe tinha efeito algum, já que agora podia severamente controlar suas emoções.
X. havia se auto-reiniciado e renunciado, não era mais quem era, nunca foi, havia nele somente seu interior, o sentimento, e desconhecia, não mais reconhecia seu exterior. Não existia mais memórias, não existia mais um ser humano, ele era um sentimento. X não se lembra, como, de repente, uma lenta brisa veio de longe, ele percebeu que qualquer que fosse o plano, talvez precisasse de ajuda. Talvez isso fosse uma ressaca de sua solidão, mas o pensamento era desconfortável e de qualquer forma, não queria mais ninguém, queria continuar solo, no comando, mas a lógica foi lhe vencendo. Qualquer que fosse o plano, ele provavelmente não poderia estar sozinho em sua execução. Queria talvez, só alguns inocentes ecravos. Na escola, analizava todas as relações entre seus colegas de classe por cima, tentava investigar toda a vida pessoal de cada um deles, e, num flash, começou a fazer novos amigos. Não se importava mais com os antigos, eram de uma outra vida. Com meta e sem plano, começa a executá-lo, pousado na mágica obscura de um dourado cavaleiro rebelde, renegado pela opressão imcrompeendida.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

o brilho de uma tarde muito longe daqui

J. estava fazendo um amigo, desses que agente ainda tem muito o que descobrir, e que agente fica rindo junto, como bobos e aventureiros, contando  histórias e fazendo as piadas no estilo de cada um. Afinal, esses que agente começa a imitar o jeito de rir e o sotaque, sem querer.
Então hoje, hoje J. se sujou no cimento abandonado de um canto de muro velho, e explorou o frágil e quase inacessível chão das telhas, vendo o sol frio brilhar laranja no horizonte que enfim era mais uma vez visível, e sentir a dor em seus pés descalços, gelados, e admirou as duas primeiras estrelas de uma noite gostosa, muito, muito longe de quem ele queria estar.
Hoje também, J. lembrou o cheiro dessa combinação mágica que acontece na vida das pessoas, todo ano.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Em primeira pessoa

Esta semana está ocorrendo uma visível chuva de meteoros no céu. Não é por isso no entanto que sou o único acordado aqui nesta casa onde moram mais seis caras. Mesmo assim acabo de ir no quintal para ver se consigo um bom local para ver esta chuva, mais está muito tarde e muito frio e algo me diz que não devo subir no telhado sozinho agora.
Essa manhã acordei num clima de muito vento frio e muito sol, o que me foi muito nostálgico, e percebi que seis anos da minha vida se passaram correndo, ao lado da pessoa que amo. Sabe essas horas onde você percebe que está morrendo e que quer reviver intensa e simultaneamente todas as suas lembranças, como se repetisse toda a vida que já viveu por instantes só para provar para si mesmo que já viveu bastante? Acho que muitos têm esse receio de nunca ter vivido o suficiente. E claro buscamos na memória por essa resposta.
Mas esquecemos, e esquecer significa estar morto no passado.
Durante toda a semana venho dormido pouco e fico estudando o dia inteiro, sem aproveitar nem relaxar em nenhum dos mínimos momentos de prazer. E isso terminou hoje, e durará por poucos dias.

E é por isso que estou acordado e muito sóbrio a essa hora, afinal, carpe diem, e que se f* o amanhã.
                                                                              ...
Na verdade, acho que amanhã levarei comigo alguém e uma garrafa em um local alto e escuro, para fins de vida, só. Afinal de contas, alguma coisa tem que acontecer amanhã.
                                                                              ...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Pessoas Comuns

      Amigo,
     
      Lembra de quando eu stava no colégio, tinha vindo da Grécia, sedento por conhecimento. Foi lá que nos vimos, e eu disse que meu pai estava lotado de dinheiro. Você disse: "nesse caso, tenho rum e coca-cola", respondi que tudo bem. Desabafei para você: "Quero viver como uma pessoa comum e fazer o que quer que uma pessoa comum faz. Quero dormir com uma pessoa comum, que nem você" Você ficou meio sem reação e disse: "Verei o que posso fazer", e então me levou para um supermercado. Te conhecendo agora, acho que você só me precisava levar para algum lugar, e acabou sendo lá. Você disse para que eu fingisse estar sem dinheiro, e eu achei um pouco engraçado. Então você me perguntou de um jeito estranho se eu realmente queria viver como uma pessoa comum, ver o que uma pessoa comum vê, dormir com uma pessoa comum, como você. Mas eu não entendi, só segurei sua mão e sorri.
      Caro leitor, você pode alugar um apartamento em algum canto diferente, cortar seu cabelo e conseguir um emprego, começar a fumar, jogar sinuca ou algo assim. Mas continuará sem entender, porque quando você se deita de noite, vendo as baratas andando pelas paredes, sabe que se chamasse seu pai ele poderia resolver tudo aquilo. Você nunca irá viver como uma pessoa comum, nunca irá fazer o que elas fazem, nunca irá falhar como elas falham,  nunca irá ver sua vida deslizar para fora de vista.
      E então dance, beba, transe, porque não há mais nada para fazer!

Obrigado, Marlais.
Em nosso caso, traduzi 'dormir' como simplesmente 'dormir', porque se não as coisas iam ficar todas estranhas entre agente (risos).

Esse foi uma rápida releitura minha a um trecho não mais nem menos lindo que o resto, da música Common People - Pulp.

Fim da caminhada de terça

Gás pesado e duro que respiro
O metal fragmentado que resta
De suas feridas em umidade tosca

Silêncio dos homens, por trás
Sofredores humildes de sua limpa ilusão

Se essas geladas escadarias não fossem
Tão iluminadas ao longe! Então nos levam
Às frias engranagens do coração hipócrita

Ainda me farão chorar nesse dia
Lágrimas vazias do corpo cheio

Fria alva névoa em simbolistas não,
de ferro polido no sangue foi embotoado

segunda-feira, 25 de abril de 2011

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    Hoje parece que todos estão deprimidos. Talvez seja efeito se uma segunda-feira após feriado prolongado, não sei. Incrivelmente eu não estou tanto (deprimido), também não sei. O feriado foi muito bom, não ótimo (perfeito) como eu queria, mas "lavou a alma", seja lá o que isso signifique. Claro que andei, saí no sol, ri bastante e joguei videogame. Houveram muitas novidades e histórias de muita gente, todos os dias de feriado. Acho que agora começarei a desenhar mais. Qualquer coisa. Até brincamos de pintar lá em casa, eu, um amigo, minha namorada e minha cunhada, que ficou de fora lendo. Desenhos abstratos de todos os tipos, alguns até com figuras concretas, mas em coisas abstratas no final das contas. Acho que algumas vezes as coisas são simplesmente mágicas, mesmo sabendo que um dia esqueceremos bastante, se não tudo. É uma idéia que assusta como a morte, mas é melhor para outro dia, quando as palavras saírem mais bonitas na linguagem dos humanos. Estou com saudade de todos, e também de todos os dias e pessoas que virão, e que deixam de vir.
Vamos todos dormir, boa noite

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Post-piada e o Planeta Terra

Este post de hoje é uma mini-crônica para comentar sobre aqueles posts que vemos em blogs por aí, aparentemente sérios, que eu costumo denominar de post-piada - assim como qualquer outro tipo de objeto de piada, como por exemplo, se você tem uma camiseta muito engraçada, eu a chamo de camiseta-piada. Estes posts são geralmente assim: começam por algum título que aparentemente não faz o menor sentido, por exemplo: Internet e Cometas - o que é propositalmente pensado pelo escritor, para que desperte sua curiosidade e o faça querer lê-lo até o final. Durante a leitura, percebe-se que o texto aparentemente não tem conteúdo objetivo algum, e você pode até começar a duvidar de sua capacidade de abstração, se perguntando: será que eu não estou entendo alguma coisa? Mas essa é só a primeira impressão, logo você se dá conta de que tudo aquilo não passa de uma espécie de humor individual do autor do post - individual porque quase ou somente ele vai achar aquilo engraçado, às vezes nem isso, casos em que o autor na verdade só quer mesmo irritar os leitores -, o qual em muitos casos usa a metalinguagem (figura de linguagem onde você utiliza uma coisa para dizer algo dela mesma, como por exemplo uma música sobre músicas) da maneira mais sutil possível, para parecer a si próprio, ao ego, esperto e culto, quando na verdade não tem nada a dizer, e é tudo uma redundância. A partir daí você começa a se sentir explorado por ele, usado por ele, uma bonequinha de pano em suas mãos malévolas, e então uma necessidade de vingança surge e você quer parar de ler todo aquele texto imenso para não dar razão ao seu inimigo. Mas você não consegue, sabendo que ele nunca saberá mesmo quem você é, e nem ninguém, e que somente você irá carregar essa culpa para sempre em segredo, você, pela ação venenosa de sua curiosidade, continua a ler baixo, perdendo seu tempo, já humilhado no fundo de um poço, sozinho no escuro, ou na claridade de seu monitor.
É traindo esse movimento de egocêntricos, pseudo-cults, sozinhos na vida e que não têm coragem de se auto-afirmar, que eu lhes deixo esse convite, muito interessante, para, no final das contas, promover a vossa cultura: Planeta Terra 2011

Meu Eterno Retorno

Tem aquela parte da vida que o tédio vira uma rotina grotesca. Mesmo com o sol da tarde iluminando as copas pela sua janela ou a luz da lua cheia ao nascer vermelha, não há nada de novo, não há ânimo algum. Não se tem vontade de fazer nada mas ao mesmo tempo morre-se de tédio. Parece que nada é interessante o suficiente e você se vê tendo que aceitar o mais ou menos - ou nada. As pessoas são muito mais ou menos nesses lugares.
Mas finalmente, há o retorno, eterno, para aquele lugar lindo, onde uma conversa vale mais de mil dias da vida passada. Posso correr 5km no sol sem me cansar nem me queimar, aqui. Me sinto voando, amado. Logo de manhã há muitas risadas, e a espectativa de todos sai de seus poros e paira do ar, nítida a qualquer um, de que em algum momento desse dia maravilhoso, estaremos todos juntos. Conversando, contando as novidades, as pessoas exquisitas e bizarras que nos apareceram na rua, as coisas que nos arrependemos, as maneiras que usamos para iludir o cume particípio daquela vida trágica,... - e então por fim, rimos na maior felicidade.
Nossos pulmões se alargam, o ar parece mais frio e delicioso, como um bom gole de água gelada depois de um dia de trabalho e sede, como um marshmallow, como a resolução vitoriosa de uma revolução - finalmente podemos respirar! E nossa mente então, brilha colorida e inescrupulosa, sem vergonha, alegre e contente!!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

João e seus amigos

João não conseguia se confirmar na idéia de que talvez um deus não existisse, ele pensava agora naquela história onde Jesus aparecia para um de seus discípulos que não acreditara em sua ressurreição. Ele se identificava cada vez mais com aquele discípulo. Se esse deus quer tanto que sigamos seu caminho e disciplina, porque ele não nos deixa claro? Segundo os religiosos, deus falava em forma de enigmas e ações, mas porque tinha que ser assim? Porque uma maneira de tão mal gosto com as pessoas que sofriam ali ao lado gritando por seu químico? Porque deus não se mostra logo e acaba com todo esse terror? Ao mesmo tempo João pensava que de todas as maneiras em que as pessoas tentavam passar a idéia da existência de deus, elas usavam sempre argumentos da impossibilidade de sua não-existência, mas nunca da possibilidade de sua existência. Porque? João ansiava louco à beira do próximo veneno que tomaria, louco por alguém que viesse e dissesse que sim, deus existia, e por tal motivo. E não por alguém que viesse dizer: É claro que ele existe, porque se ele não existisse...
Naquela hora João sentia-se totalmente abandonado, e não podia acreditar que um ser seria tão cruel a ponto de deixá-lo ali, sem motivos, quando poderia tirá-lo daquela crise. Se deus existisse, não faria uma piada dessas.
Por outro lado, João condenava-se, sempre o haviam ensinado a não pensar assim, deus simplesmente existe, e ele era o próprio diabo por questionar sobre tal afirmação.
Não podendo mais conter-se, apertou a seringa, e morreu. Nos seu espamos, gritou sem que ao menos o menor som saísse de sua boca: deus, venha me buscar!

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