quinta-feira, 23 de maio de 2013

Meia

         Z. estragou o dia por que não quis por a meia. O tempo se foi enquanto ignorava a frieza de seus pés. Machucava-se lutando contra a idéia de por a meia. A meia era uma utopia. Deveria segui-la, ou deveria assumir o absurdo de tal abstração? Já sentia estilhaços na garganta, e tinha dificuldade para engolir. Reprimia a dúvida. Idealismo ou materialismo, razão? niilismo? Onde poderia se colocar no patamar das idéias? Uma agonia do eu. Somente sabia, e isso sim, de que o fato real e concreto era o de que a meia existia, enquanto os pés, descalços, passavam frio. Os pés eram parte do seu corpo, e não podia negá-los simplesmente. Patamar das idéias, que maluquice é essa? O dia foi se esvaziando, e por final Z. não pôs a meia, era demais para ele. Uma tarefa tal deveria ser simplesmente um impulso, e somente assim. Se fosse óbvio, afinal, teria posto a meia. Mas nuca foi, pois a vida de Z. tinha sentido, seu lugar no mundo era ao lado da meia.

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