segunda-feira, 25 de julho de 2011

Parte I


X. sempre acha que nada tem sentido algum. Acredita que vida não possui sentido, o amor não possui sentido, a história não possui sentido, mesmo a matemática é desprovida do sentido. X chega mesmo a duvidar da palavra “sentido”.
Sempre chega alguém feliz e alegre, com alguma novidade, algum projeto, alguma conclusão tão óbvia, um jogo de lógica brilhante, algo que poderia ganhar um prêmio por alguma coisa, mas X. simplesmente nunca consegue se empolgar, aquilo para ele simplesmente não tem sentido algum. A mesma coisa acontece com aqueles che chegam tristes e aborrecidos, X. fica sem saber o que fazer, nada não passará de algo sem sentido.
Algumas pessoas se perguntam e mesmo perguntam a X., de um jeito indireto, como se houvesse um certo receio que elas deveriam deixar claro — receio do que vão ouvir ou talvez se irão ofendê-lo — perguntam como X. consegue viver assim, como pode haver uma vida sem sentido, como as coisas se encaixariam se não houvesse sentido nelas? Como se pode sorrir com algo que não faz sentido?
Mas X. se sente disconfortabilíssimo, porque simplesmente não há resposta, nada tem resposta, nenhuma resposta tem sentido, nem mesmo aquelas perguntas. X. começa a se questionar: porque perguntaram aquilo? Que sentido faz? Com que finalidade e o que elas esperam ouvir? O que eu deveria responder? Mas nada, nada acontece com ele, e finalmente chega-se a conclusão: Ah! Vou parar de pensar nisso, não tem o menor sentido!
Mesmo assim X. às vezes se empolga, quer fazer algo grandioso, quer que as pessoas entendam-no, quer que as pessoas se entendam, quer dar um sentido aquele momento. X. sempre pensa em escrever um belo poema, mas ele nunca consegue um verso. Mas tem certeza de que, se um dia escrever aquele verso, o mundo será abalado.
X. não tem certeza de nada, e a sua verdade é a incerteza, mas isso só antes de X. perceber que não pode existir uma verdade, porque uma verdade tem que fazer sentido.
Isso não o impede nunca de sorrir, de se esbravejar e de fazer coisas que seres normais fazem. Para isso, X. deve se concentrar apenas um pouquinho, deixar que seus instintos animais o levem para uma branda ilusão. Porém, é uma ilusão muito esburacada e frágil, X. é fraco, ele não se sustenta muito se alguém o questiona esperando que ele responda algo que faça sentido.
X. vive uma dura vida, uma vida de poucos momentos de ilusão, e mesmo assim, X. ama todo o tempo. Não que ele consiga explicar o tal sentimento e a tal vontade, não que consiga conversar sobre ela, sobre o amor, não que consiga conversar sobre algo sério, algo que deve ter sentido, que deve contentar alguém de alguma razão, não que consiga conversar. Se X. uma hora argumentou, quis alguma coisa, brigou por alguma coisa ou discutiu alguma coisa, é porque aquilo o incomodava de alguma maneira, machucava, ou causava e causaria algum prazer animal, ou por um momento pequeno ele fingiu que aquilo tudo fazia sentido, só para ser solidário com alguém, por nenhuma razão que faça sentido.
X. queria saber brincar de ser humano direito, desse faz de contas sobre sentimentos e palavras, disso tudo. Acho que em alguns momentos ele iria gostar da brincadeira. Ele queria saber lidar com as pessoas, e com ele mesmo, sem passar vergonha, não que ele ligue para a vergonha. X. nem consegue imaginar como seria um mundo ideal, porque ele se perde. X. não quer morrer, porque é curioso e gosta de um prazer ou de outro. Porque morrer simplesmente não faz sentido.
X. se aquece no sol e aprecia a brisa, com suas entranhas vazias, ocas e inquietas.


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