segunda-feira, 18 de abril de 2011

João e seus amigos

João não conseguia se confirmar na idéia de que talvez um deus não existisse, ele pensava agora naquela história onde Jesus aparecia para um de seus discípulos que não acreditara em sua ressurreição. Ele se identificava cada vez mais com aquele discípulo. Se esse deus quer tanto que sigamos seu caminho e disciplina, porque ele não nos deixa claro? Segundo os religiosos, deus falava em forma de enigmas e ações, mas porque tinha que ser assim? Porque uma maneira de tão mal gosto com as pessoas que sofriam ali ao lado gritando por seu químico? Porque deus não se mostra logo e acaba com todo esse terror? Ao mesmo tempo João pensava que de todas as maneiras em que as pessoas tentavam passar a idéia da existência de deus, elas usavam sempre argumentos da impossibilidade de sua não-existência, mas nunca da possibilidade de sua existência. Porque? João ansiava louco à beira do próximo veneno que tomaria, louco por alguém que viesse e dissesse que sim, deus existia, e por tal motivo. E não por alguém que viesse dizer: É claro que ele existe, porque se ele não existisse...
Naquela hora João sentia-se totalmente abandonado, e não podia acreditar que um ser seria tão cruel a ponto de deixá-lo ali, sem motivos, quando poderia tirá-lo daquela crise. Se deus existisse, não faria uma piada dessas.
Por outro lado, João condenava-se, sempre o haviam ensinado a não pensar assim, deus simplesmente existe, e ele era o próprio diabo por questionar sobre tal afirmação.
Não podendo mais conter-se, apertou a seringa, e morreu. Nos seu espamos, gritou sem que ao menos o menor som saísse de sua boca: deus, venha me buscar!

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Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends