quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pancada, manhã já

Dez e pouco, quase onze, mas o ventilador "Ah que bom deixei ligado (posso deixar ligado) já que eles - aqueles que dividem o quarto - não estão aqui" - embora o edredom - e o vidro da janela aberto.
"Eles não estão aqui": pode abrir a janela e entra o sol queimando, brilha o quarto seco. Vai à pia, molha cara. "Ai ai, (outro dia)".
Sai do quarto e deixa a porta aberta - eles... - e faz café, pão novinho, leite do bom: os pais passaram ontem, deixaram presentes, deixaram a imagem de uma cachorra sendo atropelada, sangue saindo da boca. Sangue saindo da boca. Não pensaram, ele não chorou, contaram do sangue. Patas quebradas. Tinham que contar afinal. Candy...
Oferece o pão, oferece o leite, numa tentativa de melhorar o mundo, melhorar a vida - sente-se gentil.
Come bem. No banheiro, ninguém. Faz cara de satisfação: "Satisfação? Como posso? Que vida horrível, como pode? Candy... tadinha sua... tão bonitinha, fofinha e ciumenta..."
Veio pra cá pensando que ia voltar e vê-la de novo, fazer um carinho, tadinha... a vida inteira num quintal... voltar e mexer na orelinha, do jeito que ela gostava, dava aquela lambidinha. Não. Teve de agonizar sozinha.
2001-2011.
10 anos viveu com ele, todos os dias, dos mais banais - mas na manhã mais importante... Não. Sozinha. Doeu muito, muito, coitadinha.
Zombam de nós a morte a mente o carro filhadaputa cinco e meia da manhã numa curva correndo correndo para matar na pancada: Pá! - "Foi 'pá'?" - sangue saindo pela boca, patas quebradas...
Não quis nem perguntar quando.

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Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends