terça-feira, 2 de agosto de 2011

Pedaço Segundo

Caminhava de volta para casa rindo ironicamente de como me aproveitei da imbecilidade humana, e de como eu mesmo era imbecil.
Derrepente, num caminho estreito de concreto cercado por abismos de cerca de vinte centímetros da calçada à rua, fui emboscado por trás por um ciclista impaciente. Então lembrei das horas em que eu mesmo já fui aquele ciclista impaciente, sedento pelo ímpeto de seus pedais, sendo castrado pelo contrato social de não poder atropelar alguém em sangue frio e curtir a brisa logo após. Dei passagem. Recebi um "valeu". Hoje então recebi um "valeu" Quieto, inseguro e tímido, e provavelmente de alguém muito chato, mas me senti bem. Um "valeu". Faz tempo que não ganho um desses.
Tentei fazer um rap bobo, mas não conseguia as rimas, e já estava um pouco ofegante. Fiquei triste e chamei o mundo de imbecil.
Continuei caminhando e o cansaço começou a aparecer, meu corpo reclamava e minha alma resmungava sem que eu me desse conta, sem formar palavra alguma. Foi quando escutei um choro de criança "Quero mamãããee" Me compadeci daquele choro, me identifiquei naquela coisa toda. Eu "queria mamãe" também. Estava cansado e sofria horrores andando. Pensava em como o mundo é imbecil por eu não conseguir simplesmente voar.
Logo após lembrei de meu primeiro dia de aula. Um dos professores era claramente muito idiota. Lembrei de novo de como o mundo é imbecil.
Um cão me encarou de um jeito que pros humanos seria muito engraçado, e ri um pouco. Pensei nas coisas bonitas da vida. Pensei como às vezes penso que talvez ser cachorro seria mais legal. Um cachorro não precisa pensar nada abstrato demais, faz totalmente seu papel, e sua ocupação é sua animalidade, imaginou? Brinca e se esbraveja, e não se arrepende de nada, nem se incomoda pela falta de memória. Mas pensei que então estaria sujeito a imbecilidade de meus donos e dos motoristas nas ruas. Lembrei de como eu queria ser um cachorro porque o mundo dos humanos é muito imbecil.
Cheguei em casa e comi um chocolate. Não tinha água, então brinquei de tocar violão.

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Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends