segunda-feira, 16 de abril de 2012

Blues lento e grave

-- Aquela barata, é sua?
-- ... É.
-- E aquele vinho porcaria na geladeira, também é seu, né?
-- É...
-- A coitada, a nojenta, você matou, você matou porque quando você entrou nessa casa você prometeu que mataria todas as baratas que tentassem subir nas coisas limpas da cozinha, né? ... A barata podia fugir de você, se enfiar aí por baixo da geladeira ou numa fresta, ou sair correndo e você nem ver, ela podia fugir de você, ela podia escapar cara, escapar, e você não suportaria isso de ela fugir de você né? Pior, você não suporta perder ela de vista, né?
E o vinho, cara? Porque você não matou a porcaria desse vinho pela metade que está aí a mais de um mês? O vinho fica aí quietinho te enxendo o saco também, né? Mas você não mata ele de jeito nenhum. Poracaso ele não é seu? Porra cara, ele é seu...
A barata, cara, não depende de você, mas o vinho, ah o vinho, era sua responsabilidade cara.
-- ...
-- Você é gente boa.
-- Não entendo...
-- Veja bem... Se você não fosse gente boa, se fosse um normal por aí, eu ia pouco me foder pra você. Olha, não desejo mal pra ninguém, mas se você fosse qualquer um, eu poderia simplesmente te ignorar. Se um cara cai com a cara na bosta por aí, eu num to nem aí, tá ligado? Mas acontece que você é gente boa, e como você é gente boa, agente fica com dó cara. E agora, agora você é minha responsabilidade.

O rapaz morreu instantaneamente.

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Now that San Francisco's gone/ I guess I'll just pack it in/ Wanna wash away my sins/ In the presence of my friends